segunda-feira, 12 de maio de 2008

Humanidade... ou nem por isso

Há bastantes exemplos, ao longo da História, de pessoas capazes dos actos mais altruístas que se possam imaginar; no entanto... há algumas experiências que nos fazem pensar até que ponto esses casos não serão apenas excepções à regra.

Vou resumir sucintamente algumas experiências que foram feitas e que provavelmente vão surpreender muita gente.


A Experiência de Conformidade de Asch (Asch Conformity Experiment - 1953)

Em que consistia:

Era dito aos participantes que iriam participar num teste de visão com mais algumas pessoas. Eram mostradas algumas imagens, sobre as quais lhes fariam perguntas bastante simples e óbvias. O "truque" era que toda a gente na sala, para além do sujeito em teste, fazia parte da experiência e estavam instruídos para darem respostas erradas. Assim sendo, seria o indivíduo afectado pelas respostas erradas das outras pessoas?

O resultado:
Para se perceber melhor do que se tratava, vejam a seguinte imagem.

As pessoas apenas tinham que dizer qual das linhas na parte direita tinha o mesmo comprimento qye a linha no lado esquerdo. Algo que qualquer pessoa facilmente responderá.

No entanto, 32% dos indivíduos testados respondeu incorrectamente se vissem três dos "colegas" a dar a mesma resposta errada. Mesmo sendo evidente que sabiam estar a dar uma resposta errada 1 em cada 3 das pessoas testadas preferiu "ir na onda" da decisão dada pela maioria.

O que isto significa:

Se isto é assim tão evidente em casos tão óbvios, imagine-se o que aconterá quando se trat de questões bem mais dúbias onde as pessoas nem têm a certeza da resposta certa. A têndencia para a pessoa seguir a opção mais popular do "grupo".

E claro, se estão a pensar: eu não sou assim, eu não me conformo com as "maiorias"...
O que é que fazem a seguir? Juntam-se a todos os que não se dão com as maiorias...


... e acabam por cair no mesmo "conformismo" dessa minoria.

Afinal... todos nós somos indivíduos diferenciados, certo?



A Experiência do Bom Samaritano - (The Good Samaritan Experiment 1973)

O teste:
A história bíblica do Bom Samaritano, é sobre um viajante que pára para ajudar uma pessoa enquanto outras pessoas passam por ele sem lhe darem a mínima atenção. Os psicólogos John Darley e C. Daniel estavam curiosos em saber se a religião teria alguma impacto no seu comportamento.

As cobaias foram um grupo de seminaristas. A metade dos estudantes foi contada a história do Bom Samaritano e pedido que dessem um sermão sobre ele noutro edifício. Aos restantes estudantes foi pedido que falassem sobre oportunidade de emprego.

Para "ajudar", foram dados horários diferentes aos estudantes para que uns tivessem tempo de sobra e outros não.

Depois, a caminho do edifício onde deveriam dar o sermão, foi colocado uma pessoa a necessitar de ajuda num beco.


O resultado:
Os estudantes que tinham como missão falar sobre o Bom Samaritano não pararam mais vezes que os outros que iam falar de empregos. O factor que teve maior impacto foi unicamente o tempo que os alunos tinham disponível.

Entre os alunos que iam cheios de pressa, apenas 10% pararam para prestar auxílio, mesmo estando a caminho de uma sessão onde iriam falar sobre como é bom parar para prestar auxílio!

O que isto significa:

Pois é... é mais fácil falar sobre prestar auxílio numa sala de conferências do que estar enfiado num beco a ajudar um estanho ensanguentado.

E se pensam que isto se restringe a seminaristas. Então que dizer este caso em que inúmeros carros passaram sem parar por uma mulher ferida deitada na estrada?

Aparentemente, desviarem-se dela era já ajuda suficiente.
O que vai de acordo com...


A Experiência da Apatia dos Espectadores - (Bystander Apathy Experiment - 1968)

A experiência:
Quando uma mulher foi assassinada em 1964, os jornais relataram que 38 pessoas tinham ouvido e visto o crime, mas não fizeram nada para o impedir. John Darley e Bibb Latane queriam saber se o facto de as pessoas estarem numa multidão teria influência na relutância de auxiliarem alguém.

Os dois psicólogs convidaram voluntários para participar numa discussão. Como a discussão seria sobre assuntos bastante íntimos e privados, as pessoas estariam em salas separadas e discutiriam através de um intercomunicador.

Durante a discussão, uma das pessoas fingia ter um ataque epiléptico, para avaliar a reacção do outro indivíduo.


O Resultado:


Quando o sujeito em teste pensava ser o único outro interveniente na discussão, 85% saiam da sala em busca de auxílio.

Até aqui nada de grave... a não ser: coitados dos desgraçados que precisarem de ajuda e tiverem o azar de apanhar uma daquelas pessoas que ficou nos restantes 15% que não saiu em busca de ajuda.

Mas a experiência não se ficou por aqui. Quando as condições foram alteradas, de forma a que os participantes pensassem que a discussão estava a ser realizada com mais quatro pessoas, a percentagem de pessoas que foi em busca de auxílio desceu para os 31%.

Os restantes pensaram: "alguém vai pedir ajuda, não preciso de ir eu."

O que isto significa:

Se em caso de emergência formos a única pessoa por perto, a pressão para que façamos algo é muito superior à de alguém que assista à mesma emergência do meio de uma multidão.
Quando estão sozinhos, sentem-se 100% responsáveis... mas se estiverem no meio de 10 pessoas, então sentem-se apenas 10% responsáveis.
O problema é que as restantes pessoas também se sentem pouco responsáveis, o que pode fazer com que ninguém reaja.

No caso anterior, da mulher caída na estrada, em que ninguém parou para ajudar, certamente que muitos dos condutores também pensavam que alguém iria parar para a ajudar.


The Stanford Prison Experiment (1971)

A experiência:
O psicólogo Philip Zimbardo queria estudar os efeitos da prisão nos guardas e prisioneiros. (Mal sabia ele que isto até iria virar filme: Das Experiment)

Zimbardo transformou a cave do Departamento de Psicologia de Stanford numa prisão a fingir e procurou por voluntários...


Obviamente, não foi este o anúncio...

... que foram depois sujeitos a um teste verificando a sua saúde física e mental (ao contrário do que acontece com as prisões no mundo real.) Os voluntários eram todos estudantes masculinos, e foram divididos aleatóriamente em dois grupos de 12 guardas e 12 prisioneiros. Zimbardo decidiu que também queria participar na experiência e elegeu-se Director da prisão. A experiência devia durar duas semanas.

O resultado:

Ao fim do primeiro dia já andavam todos malucos. No segundo dia os prisioneiros simularam um motim, barricando-se nas suas celas com as camas a bloquear as portas, e gozando com os guardas prisionais. Os "guardas" não fizeram por menos: começaram a usar os extintores de incêndio para impôr respeito.

A partir daí, foi sempre a piorar. Dia após dia os guardas continuaram a abusar dos prisioneiros, forçando-os a dormir nús no chão, proibindo as idas à casa de banho, e obrigando-os a exercícios humilhantes e a limpar as retretes com as próprias mãos.

Surpreendentemente quando foi dito aos "prisioneiros" que tinham a hipótese de sair em liberdade condicional, mas depois lhes foi recusada, nenhum deles se lembrou de simplesmente sair do raio da experiência - continuando a dormir nús no chão imundo, ou com sacos na cabeça.

Mais de 50 pessoas observaram o que se passava na prisão, mas ninguém fez nada quanto a isso até que a namorada do "director" reclamou do que se estava a passar. Ao fim de seis dias, a experiência foi finalmente cancelada (com muitos dos "guardas" a ficarem profundamente desapontados com isso.)

O que isto significa:
Alguma vez teve que lidar com algum agente da autoridade, daqueles que olham para vocês como se fossem seres inferiores, e que vos pedem tudo e mais alguma coisa apenas para demonstrar o seu poder? A ciência diz que se os papéis se invertessem, provavelmente iria agir da mesma forma.

Aparentemente, a única coisa que nos impede de torturar os nossos congéneres é o medo das consequências (em nós) que isso possa ter. Dêem a alguém poder absoluto e um cheque em branco, e está o caminho aberto para o Inferno na Terra.


The Milgram Experiment (1961)

A experiência:
Quando os julgamentos de Nuremberga relativos aos Nazis estavam a decorrer, a maioria dos acusados defendia-se com argumentos do tipo: "Eu não sou má pessoa. Estava apenas a cumprir ordens." O psicólogo Stanley Milgram da Universidade de Yale quis testar a vontade das pessoas em obedecer a uma figura autoritária.

Isso deu origem a uma das mais conhecidas experiências de todos os tempos, com resultados surpreendentes.

A cobaia era colocada no papel de "professor", e o seu trabalho consistia em efectuar um teste de memória a outra pessoa colocada noutra sala. Todo o processo era falso, e a outra pessoa era um actor.

Sempre que a pessoa repondesse incorrectamente ele teria que carregar num botão que daria um choque eléctrico, enquanto um homem vestido com uma bata de laboratório se certificava que eles carregava no botão. O choque não era real, e tudo era encenado pelo actor, mas obviamente que a pessoa em teste não sabia disso.)

Era-lhe dito que os choques começam com 45 volts, e que iriam aumentando de cada vez que fosse dada uma resposta errada. De cada vez que carregava no botão, o actor na outra sala dava gritos e suplicava para que ele parasse com aquilo.

Conseguem imaginar no que isto resultou?

O resultado:
Como seria de esperar, a maioria das pessoas começou a sentir-se desconfortável a partir de um certo ponto, e perguntavam se deveriam continuar com a experiência. No entanto, de cada vez que o técnico do laboratório os encorajava a prosseguir, a maioria obedecia prontamente: subindo a voltagem e dando choque após choque.

Eventualmente o actor começava a dar com a cabeça na parede que o separava do "experimentado", gritando sobre os seus problemas cardíacos. E após mais alguns berros e cabeçadas, subitamente deixaria de se ouvir qualquer som vindo daquela sala, indicando que a pessoa estaria inconsciente - ou mesmo morta. Se tivessem que adivinhar, que percentagem de pessoas acham que continuaram a dar choques mesmo depois disso?

Cinco porcento? Dez? Vinte?

Na realidade foram cerca de 66% as pessoas que continuaram a dar choques até ao máximo de 450 volts, mesmo depois da vítima estar inconsciente ou morta.

E se pensam que foi um mero acaso, outras experiências semelhantes obtiveram os mesmos resultados assustadores: as pessoas provocarão as maiores atrocidades a um inocente desde que alguém lhes diga que está tudo bem.

A maioria das pessoas nem se preocupava com o bem estar da vítima até atingir os 300V. E nenhum deles pediu para parar com a experiência abaixo desse ponto - e convém não esquecer que 100V já são mais que suficientes para matar um homem.)

O que isto significa:
Que não importa o que cada um pensa de si, como sendo um pensador que faz apenas o que é correcto, no final todos preferem infligir dor a ter que a suportar. E se as pessoas obedecem cegamente a um técnico de laboratório, imagine-se se ele tivesse um uniforme.

Charles Sheridan e Richard King foram ainda mais longe, ao pedir aos sujeitos que dessem choques num cachorro de cada vez que ele fizesse uma acção incorrecta. Mas, ao contrário da experiência de Milgram, os choques eram mesmo reais. Vinte em vinte seis pessoas atingiram o nível máximo de voltagem infligido ao pobre cachorro.

Pensem bem no que isso significa... 77% das pessoas com quem vocês se cruzam na rua ou no shopping não teriam qualquer problema a torturar um cachorro - ou quem sabe, uma pessoa - desde que lhes fosse pedido por um tipo com uma bata de laboratório.


via [Cracked]

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