quinta-feira, 27 de março de 2014

Um dia anormal de trânsito normal


Fiquei pasmado. Pela primeira vez desde que me lembro, fiz-me à estrada e deparei-me com uma situação surreal: todos os condutores estavam a seguir as regras de trânsito e a conduzir civilizadamente!

Na entrada para uma ex-SCUT, embora tivesse tráfego intenso, o veículo que seguia à minha frente acelerou na faixa de aceleração em vez de travar e parar, como tão frequente é; e milagre dos milagres, os veículos que seguiam gentilmente se ajustaram de forma a que se pudesse entrar, em vez de acelerarem loucamente para impedir que alguém ousasse entrar à sua frente. De loucos, pensei eu - está tudo a fazer o que se gostaria de ver sempre. E a única coisa estranha era um ocasional buzinar distante, vindo sei lá de onde.

No percurso, nova surpresa. Em vez de lidarmos com o habitual malabarismo entre faixas, todos seguiam à mesma velocidade (dentro do limite legal) e parecia magia. Nada de travagens bruscas devido a alguém que se aventurava a mandar-se para a faixa da esquerda quando seguia a metade da velocidade de quem vinha a ultrapassar; nem aceleras que só se lembram de carregar no pedal quando alguém os vai a ultrapassar. Até achei estranho não ver ninguém a zigzaguear pela estrada como uma barata tonta, falando ao telemóvel ou - como também tantas vezes acontece - a escrever um SMS. Notei é que, aos poucos, aquele estranho buzinar distante se ia aproximando.

Por esta altura já estava a imaginar mil e uma hipóteses para que depois de tantas décadas, finalmente houvesse ordem nas estradas. Talvez seja o efeito da crise, com as pessoas a circular mais devagar e com mais paciência, para pouparem combustível; mas isso não explicava aquelas pessoas que mesmo com carros que (pelo menos aparentemente) indicam não estar a sofrer com os efeitos da crise, seguiam civilizadamente sem ostentar a potência elevada dos seus veículos face aos restantes.

Um percurso que em qualquer outro dia demoraria 60 ou 70 minutos de frustração e stress de constante "batalha rodoviária" foi assim feito em apenas 20 minutos, sem que houvesse necessidade de gritar uns palavrões para aqueles artistas que, quando possível, se lembram de recorrer a estações de serviço, ou saídas-entradas para conseguir "comer" os restantes condutores, adiantando-se algumas centenas de metros (esquecendo-se que é graças a isso que o trânsito fica ainda mais encravado). E já dava comigo a imaginar: se amanhã isto continuar a ser assim... era uma maravilha!


Mas foi nessa altura que percebi que afinal o buzinar insistente que vinha a ouvir era o alarme do despertador, e que tudo não tinha passado de um sonho.

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