quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Planeta dos Jovens Génios Desperdiçados

No outro dia li uma notícia sobre um jovem de 16 anos que terá resolvido um problema matemático com 300 anos proposto por Newton; um problema que, talvez demasiado empolado pelas notícias (ou não), não retira mérito ao jovem e que me fez pensar na quantidade de jovens génios em potencial que existem no nosso planeta... e que acabam por ser desaproveitados.

É que não pude evitar de pensar: o que teria acontecido a este jovem se, em vez de um pai que lhe tivesse incutido o gosto pela matemática (ensinando-lhe cálculo matemático aos 6 anos), tivesse tido outro que preferisse que o seu filho fosse um jogador de futebol, ou médico... ou simplesmente "nem se preocupasse" e deixasse o filho a jogar na Xbox ou PS3 à sua vontade... (para não falar no caso de poder ter nascido em situação carenciada, onde arranjar comida e água para sobreviver mais um dia fosse a sua única e principal preocupação!)

Acho que todos nós conheceremos casos semelhantes, de pessoas com enorme potencial, mas cujas circunstâncias da vida se terão intrometido e impossibilitado um futuro brilhante, com prejuízo incalculável para a humanidade. Quantos jovens "Einsteins" não terão ficado presos algures pelas malhas da sociedade no processo de crescimento, e acabado em vidas miseráveis, infelizes... sem nunca terem tido possibilidade de se dedicarem aquilo para que verdadeiramente nasceram?

É que, se é certo que com vontade e preserverança a grande maioria das pessoas se consegue tornar boa, ou até excelente, em qualquer coisa a que se dedique... não se pode negar que há mesmo quem tenha "nascido" para certas coisas. E se será quase certo que em cada turma de 20 ou 30 alunos, haja 1 ou 2 que se destaquem dos demais; haverá também 1 ou 2 que se destaquem de 100 desses; e outros 1 ou 2 que se destaquem dos 1000 melhores desses grupo.... e começamos então a entrar no campo do puro génio; de pessoas cujo cérebro parece estar perfeitamente sintonizado para olhar e perceber o mundo de formas que "escapam" ao resto da população. Claro que não me refiro apenas às "ciências"... isto acontece com todo o tipo de coisa que se possa imaginar...

Imagine-se um jovem irrequieto que não consiga deixar de "batucar" na sua carteira de escola, e seja continuamente reprimido e castigado pelos seus educadores, por não ser bem comportado... mas que teria todas as aptidões para se tornar no maior baterista alguma vez visto no nosso planeta?

Ou de um jovem cuja mente brilhante torne frustrante todas as aulas e conhecimentos dados "a passo de caracol" nas escolas, fazendo com que se se vá isolando e afastando cada vez mais daquilo que poderia ser: como uma planta que, em vez de ser regada e cultivada, seja colocada à sombra para que não sobressaia das demais?

... Fico triste por ver uma sociedade que tanto se esforça por formatar e "conformar" os seus membros, em vez de reconhecer - e incentivar - a infinita variedade que nos torna diferentes e únicos; e, acima de tudo, de permitir que cada um possa atingir o seu máximo potencial, fazendo com que a humanidade avance rumo a um futuro mais justo, saudável, e feliz.



Talvez fosse possível adaptar a fórmula de Drake, utilizada para se calcular o número de civilizações extra-terrestres que potencialmente poderiam ser detectadas por nós:

Uma fórmula que tem como factores o ritmo de formação de estrelas na nossa galáxia, quantas dessas estrelas terão planetas em órbita, quantos desses planetas poderão suportar a vida, quantos irão efectivamente desenvolver vida, quantos desses serão capazes de desenvolver vida inteligente, quantas dessas civilizações desenvolverão tecnologia que emitirá sinais que possam ser detectados, e por quanto tempo isso será feito.

Talvez fosse apenas simples substituir esses factores, por algo como: o número de nascimentos no nosso planeta, quantos desses terão nascido num ambiente que lhes permita sobreviver por mais que um par de anos; quantos desses terão possibilidade de receber uma educação; quantos desses terão a sorte de encontrar educadores/professores que reconheçam as suas capacidades; quantos terão pais dispostos a deixar que os seus filhos sigam os seus próprios rumos; quantos conseguirão que esse rumo lhes possibilite realmente tirar partido das suas aptidões; etc.?


Mais provavelmente nos dias de hoje, quantas crianças não terão o seu potencial percurso automaticamente "mutilado" à partida, com pais que enfrentam situações de desemprego... Mesmo que certas pessoas insistam que isso representa "uma oportunidade". Oportunidade para terem que roubar comida para não verem os filhos passar fome, talvez... (Segundo um relatório da Unicef, um terço das crianças em Portugal são carenciadas - certamente alguém se apressará a dizer que isso apenas representa "oportunidades" para que elas vejam o mundo por outro prisma...)



Terá já nascido a pessoa que tinha encerrada no seu cérebro a capacidade para solucionar e curar todos os tipos de cancro, mas que por necessidade teve que abandonar a escola para ir trabalhar para ajudar a alimentar a família?

Terá já nascido a pessoa com um cérebro capaz de decifrar os mistérios do universo, mas cuja família, por tradição, a empurrou para uma cadeira na área da medicina?



... Não deixa de ser curioso pensar que toda e cada pessoa neste planeta é um génio, um génio cujo percurso poderá ter sido desviado por qualquer uma das muitas armadilhas da vida, e que - no fundo - nos torna num planeta... repleto de jovens génios desperdiçados.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Esta perspectiva é de facto interessante, e levanta algumas questões pertinentes.

    Se olharmos para a sociedade actual, pegando na celebre Selecção Natural, isso que dizes pode ser encarado como uma forma modificada - ou quem sabe "modernizada" - desse processo.

    Ao fim de contas, onde nasces faz todas a diferença, e a seleção natural dava prioridade àqueles que tinham forma de sobreviver no ambiente onde estavam. Se neste momento temos génios que não tem o que comer, essa genialidade acaba por ser uma caracteristica que não lhes confere grande vantagem em relação aos demais.

    Mas concordo contigo que é preocupante. Até porque, como diz o Sir Ken Robinson, a escola de hoje é igual à escola originária da revolução industrial. Mas a sociedade não é a mesma. Se calhar era melhor pensarem de que forma é que os jovens são educados, e ensina-los a tirar mais do seu potencial inato do que inserir tudo no mesmo saco.

    Já agora, o video da RSA dessa TED do Sir Ken Robinson.

    http://youtu.be/zDZFcDGpL4U

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