Comprar um carro usado. Um risco? Depende!

Se há algo que floresce em Portugal são os stands de automóveis usados.
Eles nascem como cogumelos, aproveitando todos os recantos para a exposição de meia dúzia de carros usados para venda.

O grande problema destes stands é que para quem pretende adquirir um veículo existem vários riscos que terão de assumir.
Para começar temos logo a questão sobre a legalidade do carro. É importado, é nacional? É roubado, é legal? Teve acidentes, não teve? O vendedor é honesto e fidedigno, ou vai desaparecer daqui a uns meses?
Estas questões normalmente assolam todos os compradores que pretendem abordar estes stands.

Mas o que define um bom stand? É uma boa localização? É um bom aspecto? É o número de carros que possui para venda? É o facto de estar associado a uma entidade nacional que fornece as garantias aos veículos?
Não! Nada disso! Conheço um caso de um stand, com vários anos já de existência, com excelentes instalações, carros garantidos por uma entidade fidedigna a nível de garantia, que teve de fechar portas porque os carros que vendia eram roubados.

Infelizmente não há garantias verdadeiras sobre se um stand é honesto, se os carros realmente são legais, e se este vai efectivamente cumprir com as suas obrigações de garantia após a venda.
Mas será que isso deve afastar as pessoas dos stands de usados? Claro que não, os bons negócios estão aqui, e é uma questão de pesquisa.

O que se pode então fazer?

Certeza de assistência em caso de problemas durante a garantia

A única forma de alguém poder certificar a honestidade de um vendedor e saber se este estará lá em caso de problemas, é contactar outras pessoas que tenham adquirido viaturas no local.
Conhecer alguém que já tenha adquirido uma viatura e usado a assistência em caso de problemas certifica o vendedor. Por outras palavras, devemos ter sempre uma referência de alguém conhecido que possa certificar o vendedor - até porque a garantia dos usados não envolve peças de desgaste e, em caso de problemas com estas, somente um vendedor realmente honesto poderá dar garantia.

Saber se o carro é importado

Para se saber se um carro é importado, teremos de pedir acesso ao livrete. Apesar de nos casos mais comuns a matricula servir como referência, ao apresentar uma série de números e letras que não correspondem ao ano de matrícula, existem casos, e que são os piores, em que os carros são importados apenas com alguns meses de idade.
Estas situações de importação de carros jovens apenas compensam para carros acidentados, de forma que essas situações se revelam como sendo as piores. No entanto o livrete terá de referir todas as matrículas que o carro já teve, e uma consulta ao mesmo, no campo de anotações especiais revelará se o carro é importado ou não.
Existe contudo a possibilidade de o livrete ser falso, dai que teremos que ver o passo seguinte.

Saber se o carro é roubado e se está legal.

É necessário nestas situações saber o nome do proprietário anterior. Normalmente o vendedor deverá ter o livrete do antigo proprietário, de onde poderemos retirar informações que nos permitirá entrar em contacto com o mesmo, de forma a saber o historial do carro.
Em caso de financeiras deveremos igualmente entrar em contacto com as mesmas obtendo idênticas informações, bem como sabendo se o carro está livre de ónus.

Verificar se o carro se encontra em condições e se já sofreu acidentes

Devemos questionar o vendedor se o carro já esteve noutro local à venda. Muitos carros estiveram em stands da própria marca e foram revistos pela mesma, mas dada a dificuldade em escoar o mesmo, eles são cedidos a estes stands que pelo volume de vendas mais facilmente despacham a viatura.
A verificação do número de série de todos os vidros é uma outra verificação a fazer. Caso o numero de série do vidro da frente ou de trás sejam diferentes, isso indicia a possibilidade de um acidente com quebra de vidros, situação que deverá levar a uma vistoria mais completa.
Levantar as borrachas do carro e espreitar pelas frinchas dos faróis é igualmente uma verificação a fazer. As pinturas normalmente deixam marcas nestas zonas, onde poderemos verificar diferentes tonalidades de pintura. A verificação da cor dos faróis (os plásticos dos faróis amarelecem com o tempo) poderá, em caso de grandes diferenças entre o lado direito e esquerdo indiciar igualmente que a viatura esteve envolvida em um acidente.
Poderemos igualmente ir munidos de um íman (apenas para carros com carroçarias metálicas). Caso o íman mostre dificuldades em colar nas partes frontais ou traseiras do carro, estamos na presença de massas, e como tal, de uma reparação.
Devemos igualmente verificar o piso dos pneus, e a altura ao solo de todas as suspensões.
Para ver se o motor poderá apresentar problemas, e dado que os carros nos stands ficam parados muito tempo, devemos ao fazer o test drive, verificar o solo no local onde o carro se encontrava parado. Pingas de óleo no chão poderão indicar um motor com problemas.

---//---

Resolvi escrever este artigozinho depois de ter passado por uma situação de compra de um usado. O stand foi-me recomendado como sendo de uma pessoa honesta, que deu inclusive assistência a reparações caras em situações às quais se poderia ter esquivado facilmente por não se encontrarem explicitas no âmbito das garantias a que estes vendedores estão obrigados.

Procurando um automóvel no distrito de Braga, ou Porto, dirigi-me a Barcelos, mais concretamente a Martins, ao Stand Gomes.

Aí encontrei um Smart fortwo de 2003 que era uma verdadeira “pechincha”. Da cor que eu pretendia e com uns interiores ao meu agrado, equipado com rádio de origem, ar condicionado, tecto panorâmico, isqueiro e cinzeiro (sim, isto no smart são extras), separador de mala e motor a diesel, com apenas 36.000 Km e todas as revisões efectuadas na marca.

Apesar de não pretender comprar nada em stands desconhecidos, a verdade é que andava já à dois meses a sondar os preços e para um carro semelhante o preço pedido variava entre os 9000 e os 10000 euros. Neste stand o preço pedido era de 8500, tendo ficado no final, após um desconto, por 8000 euros.

Analisei o carro em todos os pontos que podia, sabendo assim que o mesmo era nacional, com apenas 1 único dono anterior, tendo sido adquirido por uma financeira.
Contactei a financeira, sabendo que o carro se encontrava totalmente pago, assim como a Smart que confirmou as revisões e a quilometragem do carro. Soube igualmente que o carro havia sido vendido como usado à Mercedes de Braga, que o havia cedido ao Stand Gomes para tentar vender.

O carro encontrava-se bem estimado, e não apresentava sinais de acidentes, o que pude confirmar ao submeter o carro ao olho clínico de um primo que é Engenheiro Mecânico na Toyota, e que só faltou desmontá-lo para verificar se estava em condições.

Constatei que um dos vidros laterais mais pequenos possuía o número de série diferente, o que em contacto com o anterior dono foi explicado como tendo sido devido a um assalto em que lhe havia sido furtado um casaco de couro que havia deixado atrás do banco.

Infelizmente, quase 3 meses após a compra chego ao carro e verifico que o pneu da frente do lado do passageiro se encontrava em baixo. Uma análise mais cuidada revelou que o pneu se encontrava completamente cortado, mostrando cedências grandes em toda a superfície. O pneu do lado do condutor apesar de ainda se manter cheio apresentava igualmente os mesmos lanhos e cedências revelando que iria ceder brevemente.

Contactei o vendedor que solicitou que lhe levasse lá o carro, o que fiz. Chamei o reboque do seguro, uma vez que o pneu estava demasiadamente danificado para ser reparado com o kit de emergência da smart (e o outro pneu apresentava igual risco de cedência) e levei o carro ao vendedor.

A prontidão na resposta demonstrou que o mesmo é efectivamente uma pessoa séria e que defende o nome do seu stand. Imediatamente deu ordens para colocar o carro numa oficina onde foram substituídos os pneus.

Exactamente por estar a passar por uma boa experiência na compra de um usado, quando a maior parte das histórias são de más experiências, resolvi relatar a mesma, bem como fazer uma pequeníssima publicidade ao stand que bem merece.

(ndr. E para mim, não há um smart patrocinado pelo stand? Eu também lhe faço publicidade! ;)