Mandela

Nelson Mandela morreu aos 95 anos, e é mais uma daquelas personagens históricas que nos abandona fisicamente mas que deixa uma memória que perdurará para sempre. Ao contrário de certas outras individualidades que se parecem esquecer do passado, eu não tenho problemas em dizer que pouco ou nada sabia sobre Nelson Mandela durante a minha infância e juventude. Aliás, quando as televisões interromperam a programação normal para mostrar uma tal libertação deste senhor... para mim era uma chatice não poder ver os programas normais que queria ver - ainda na minha inocência de não saber de quem se tratava.

Não tenho palavras, nem sequer a ousadia, de tentar descrever o percurso de vida e as atrocidades que Nelson Mandela sofreu na sua luta contra aquilo que considerava estar errado; e que infelizmente o colocou em confronto directo com os piores exemplares que a Humanidade tem para oferecer: os racistas. Também não o escondo: sou capaz de discutir todo o tipo de assuntos sem que leve algo "a mal"... mas como sempre, há excepções, e no meu caso essas excepções são os fundamentalismos religiosos e... o racismo. São os temas que - como se costuma dizer - "me tiram do sério"!

É preciso ter-se uma fibra moral especial para se conseguir suportar todo o tipo de situações que Mandela e muitos outros suportaram, sem partir para a resposta mais lógica, natural e instintiva, de "pagar na mesma moeda" e partir para a destruição total. Alguns poderão confundir isso com submissão e fraqueza... mas isso será algo que apenas mostra a cegueira dessas mesmas pessoas. Mandela teve a sorte de ser um dos casos que mesmo depois de tudo aquilo que passou, e contra todas as probabilidades, acabou por conseguir mudar parte do mundo. Mesmo se a sua memória deve ser celebrada, importará celebrar também os milhares (milhões) que tentando fazer o mesmo, acabaram sem vida numa vala comum, ou na berma da estrada, chacinados como animais, anónimos... e longe do olhar de um Mundo que se calhar também não tem interesse em ver.