O meu caro amigo Mário Ferreira analisa em detalhe o custo de combustíveis.
O custo dos combustíveis. - Um sentido duplo para "meter a mangueira"
(um artigo com uma teoria bem plausível para a inexplicada actual situação dos preços dos combustíveis)
Com o aumento dos custos do petróleo a inevitável consequência apareceu: os combustíveis subiram igualmente de preço.
No entanto, se é uma realidade que o custo da matéria-prima se alterava de dia para dia, o custo real de produção do combustível não se alterava ao mesmo ritmo. Isso deveu-se ao facto de as petrolíferas não adquirirem diariamente a sua matéria prima, e como tal o custo de produção se reflectir no valor realmente pago pelas toneladas de petróleo em stock e não na cotação de venda actual.
Mas as petrolíferas viram aqui uma oportunidade única. Ao subirem imediatamente os preços alegando o aumento do custo da matéria-prima, iriam precaver-se para as futuras aquisições, mas até lá aumentar a sua margem de lucro tremendamente num produto que foi adquirido a um preço bem mais baixo.
Desta forma ganharam-se milhões de euros. E o jogo da especulação começou.
No entanto as petrolíferas caíram num erro. Para vender combustíveis para revenda havia que conseguir bons preços, e dado que o custo real de produção era inferior ao que estas faziam crer ao cliente final, as margens para lidar com os revendedores aumentaram. E as grandes superfícies começaram a comprar combustíveis a um preço que permitia a revenda a um custo inferior ao das gasolineiras.
A consequência foi bem visível. Os baixos custos dos combustíveis nas grandes superfícies atraíram milhares de clientes que passaram a preterir as gasolineiras em favor das mesmas.
Apercebendo-se do erro cometido, e dos prejuízos que tal poderia causar, as petrolíferas ficaram sem soluções. Os custos de revenda não podiam subir mais do que as variações do combustível, e ao ser cometido o erro de vender pela primeira vez a preços baixos, todas as vendas futuras teriam de usar como bitola esse mesmo preço.
Descer os seus combustíveis abruptamente para os preços justos também estava fora de hipótese, pois como explicar tal facto? O petróleo não havia baixado e não houve alterações tecnológicas no processo de refinação que permitisse justificar tal. Para alem do mais, descer os seus preços implicaria descer os preços de revenda também, e esses estavam com valores normais e uma descida traria prejuízo.
O que fazer então?
A solução encontrada e desesperada foi atacar os combustíveis das gasolineiras. Dizer que ele não prestava e estragava os carros. Dessa forma poder-se-ia voltar a trazer os clientes para as gasolineiras, e continuar a vender às grandes superfícies.
Mas tal não caiu bem. As grandes superfícies retorquiram e com razão. Não só tal não era verdade e não havia relatos de tal, mas os combustíveis eram fabricados pelas mesmas empresas que fabricavam os das gasolineiras. Se não prestavam não era o nome das grandes superfícies que ficava em causa, mas sim o da empresa fornecedora. E mais ainda, se estragavam os carros então é porque não cumpriam com as directivas comunitárias para o fabrico de combustíveis que define a qualidade mínima que o mesmo deve ter (e que não estraga carros), e era mais uma vez o nome do fabricante que vinha à baila.
Apercebendo-se de tal, as petrolíferas retrocederam no seu plano de ataque. A frase de ataque agora seria relacionada não com a qualidade, mas com a aditivação dos combustíveis das grandes superfícies que seria inferior ao das gasolineiras, explicando assim o preço.
A questão é que nem essa explicação colhe frutos. E isso porque como se referiu existem normativos definidos para a qualidade. E o combustível das grandes superfícies, mesmo que menos aditivado, terá de obedecer aos mesmos. E então surge outra questão:
- Se é verdade que existe uma explicação relacionada com os aditivos da gasolina para a diferença de preços entre as gasolineiras e as grandes superfícies, e obedecendo todos eles aos requisitos de qualidade impostos pela UE, então porque raio as petrolíferas durante anos nos impingiram os seus combustíveis a preços elevados? Porque não criaram, nem que fosse como alternativa ao que já existe, um combustível menos aditivado, igualmente cumpridor das normas, mas mais barato?
Naturalmente não posso provar nada do que digo em cima, não passando tudo de uma teoria, mas é uma teoria bem lógica e na qual acredito piamente. As petrolíferas na ânsia de ganhar algum com a especulação dos preços e a subida imediata da matéria-prima, quanto possuíam toneladas de petróleo armazenado adquirido a preços baixos, deram um tiro no pé, e até ao momento não descobriram como descalçar a bota.
Por esse motivo surge a GALP agora com uma bomba piloto a vender combustível ao preço do das grandes superfícies. Desculpando-se que o produto é de menor qualidade (o que sinceramente não acredito), mas obedecendo aos padrões de qualidade da UE, a Galp tenta repor as coisas no lugar.
Se fosse uma questão de aditivação a GALP não precisava de andar com postos de abastecimento de teste, e bastava à semelhança do que acontece com a gasolina 98 e o Ultimate Diesel colocar um novo produto no mercado a preços mais baixos e vende-lo junto com os outros. O problema é que a GALP quer pesar as coisas a ver se o que ganham com o aumento dos preços é compensado com o aumento dos clientes, e sabendo que ao porem esse produto no mercado os restantes seriam preteridos, avança com uma estação de abastecimento piloto, onde poderá verificar se realmente a coisa compensa.
Mas há mais… Se julgam que as petrolíferas não podem descer mais o custo dos seus combustíveis, então estão enganados.
Muitas grandes superfícies não se limitam a possuir preços mais baixos nos combustíveis. Elas ainda oferecem descontos adicionais aos clientes dos hipermercados. Aliás essa prática é já usada pelas petrolíferas em associações com grandes superfícies que não comercializam combustíveis. A Galp por exemplo possui um acordo com o Continente nesse sentido!
Ora a esses preços mais baixos que a Galp possuiu na sua estação de serviço piloto ainda podem ser aplicados esses descontos, descendo ainda mais os preços.
Metemos nós a mangueira no carro, e afinal quem nos anda a meter a mangueira são eles... E a autoridade da concorrência não consegue ver esta realidade, ou então faz de conta que não vê.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
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Cá está o chato.
ResponderEliminarDiscordo completamente do artigo e logo á noite depois com tempo explico porquê.
vamos lá que a gente gosta é de contraditório :D
ResponderEliminarArtigo mesmo muito curioso e interessante. Penso que mereceria ainda um olhar sobre o preço real do que pagamos por cada litro de combustível no nosso país. Se cerca de 60% é todo para o estado, quanto não ficaria se o estado não absorvesse tanto... Dá para imaginar o quanto ajudaria a economia débil do nosso país.
ResponderEliminarEstou a ver que qualquer dia tenho que arranjar uma secção dedicada exclusivamente às "discussões" (no bom sentido) entre o Nuno e o Mário! :)
ResponderEliminarNão.. desta vez ele pode discordar... Isto é uma teoria, e não uma realidade... Mas que explicava muita coisa... isso explicava
ResponderEliminar@Mário
ResponderEliminar"desta vez"? :)
Discordar pode-se sempre, a questão é saber discutir - e, se não se conseguir chegar a consenso, ter a sensatez de se admitir que nem sempre isso é possível. E claro, seguir em frente sem "chatices"! :)
Ok.. foi mal usado o termo ;)
ResponderEliminarMas da outra vez, os argumentos eram, a meu ver, algo penosos.